Marcos Belarmino Santos e Resende
Mais de 380 pessoas morreram no Sertão Sergipano
Pandemia levou entes queridos e deixou um legado de conhecimento científico e de tomada de posições políticas

Há poucos dias completou 5 anos de um triste problema de saúde pública mundial: a pandemia do SARS-CoV-2 que foi declarada pela Organização Mundial da Saúde – OMS em 11 de março do ano de 2020 e resultou em cerca de 15 milhões de óbitos (oficializados são em torno de 5 milhões).
No Brasil, morreram mais de 700 mil pessoas sendo que o primeiro caso de novo coronavírus foi detectado em São Paulo em 26 de fevereiro de 2020: um homem de 61 anos que tinha acabado de chegar da Itália.
E talvez tenha sido da Itália as primeiras imagens mais horríveis da pandemia, quando foram divulgados fotos e vídeos de inúmeros caixões de pessoas idosas vítimas do COVID-19 e sendo enterrados em “vala comum”.
Depois disso, e com o passar dos tempos, imagens parecidas foram divulgadas por outras partes do mundo que perduram nas memórias de todos, sem contar com aqueles registros mais pessoais, seja pela marcante participação em funerais rápidos de colegas, vizinhos ou parentes vítimas do coronavírus, seja pela ausência de velório nos casos em que os corpos foram levados em caixões lacrados, do hospital ao cemitério, sem direito à rituais.
Naquele momento mais crítico o mundo praticamente se dividiu em dois: de um lado estavam aqueles que diziam que a COVID-19 era apenas uma "gripezinha" e que a população não precisava obedecer às orientações de autoridades de saúde pública como a OMS; e do outro lado, estavam aqueles que defendiam ouvir as autoridades de saúde, à ciência, bem como estimulavam a participação da população nos processos de quarentena para evitar a multiplicação desenfreada do vírus.
Nesse período, literalmente o mundo mudou (mas só durante a pandemia). Mudou rotinas de produção, crenças religiosas, mudou a forma de pensar política, de pensar economia, de pensar a ciência, de pensar a vida. Muitos defendiam mais solidariedade, mais compaixão, mais amor e menos egoísmo, mais senso de coletividade – mas o sistema capitalista exige conceitos individuais que justifiquem as desigualdades e talvez por isso a mudança não continuou no pós-pandemia!!
Talvez a única mudança efetiva observada depois de decretada o fim da Pandemia, que ocorreu em maio de 2023, foi a valorização do sistema de saúde pública como um todo, em especial o reconhecimento da utilidade do SUS e da valorização dos profissionais de saúde com a correspondente valorização salarial – o que representa avanços no sistema brasileiro.
Em Sergipe, segundo os dados apresentados pela vigilância epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde, foram mais de 6500 óbitos em um total de casos de mais de 368 mil contaminados. O sistema chegou a colapsar e não dava para atender a todos os graves casos que precisavam de atendimento de urgência em diferentes fases dessa pandemia.
Na primeira semana do mês de junho de 2021, ainda durante a segunda onda da pandemia, quando já tinha ultrapassado a triste marca das 5200 mortes, no sistema público de saúde havia 99,6% dos leitos de UTI ocupados e uma fila de mais de 79 (setenta e nove) pacientes aguardando vagas de um leito de UTI Pública. E no sistema privado não era tão diferente disso. O resultado vocês já sabem: sem tratamento adequado dos sistemas, os pacientes evoluíam ao óbito.
No sertão sergipano, médio e alto sertão, foram mais de 20 mil casos confirmados e cerca de 384 pessoas evoluíram ao óbito devido às complicações do COVID-19, observando-se, ainda, que esses números podem ter sido sub-notificados conforme entendimento da OMS.
Passados os cinco anos de descobrimento do SARS-CoV-2, este continua entre nós mesmo que tenhamos vencido a pandemia (apesar dos elevados números de óbitos), ao vencer os pré-conceitos, ao aplicar os imunizantes na grande parte da população, ao desenvolver e aplicar os tratamentos e remédios adequados, ao contribuir com o isolamento social no momento devido e com a união de profissionais de saúde, políticos e pessoas que valorizam a vida de todos.
O que sobra disso tudo é o entendimento de que devemos tomar posições em todos os momentos da vida (e não só durante uma pandemia), escolhendo projetos de saúde, de educação, de políticas públicas que colaborem com o desenvolvimento da sociedade, mas que cuide de pessoas, salvando vidas, garantindo dignidade e direitos especialmente àqueles que mais precisam socialmente.
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